domingo, 28 de abril de 2013

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender


1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria “reuniões”.

8. Há uma linha muito tênue entre “hobby” e “doença mental”.

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão… que o AMOR existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena!"

Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Para ser mais feliz


01 - Seja ético.
A vitória que vale a pena é a que aumenta sua dignidade e reafirma valores profundos. Pisar nos outros para subir desperta o desejo de vingança.

02 - Estude sempre e muito.
A glória pertence aqueles que têm um trabalho especial para oferecer.

03 - Acredite sempre no amor.
Não fomos feitos para a solidão. Se você está sofrendo por amor, está com a pessoa errada ou amando de uma forma ruim para você. Caso tenha se separado, curta a dor, mas se abra para outro amor.

04 - Seja grato(a) a quem participa de suas conquistas.
O verdadeiro campeão sabe que as vitórias são alimentadas pelo trabalho em equipe. Agradecer é a melhor maneira de deixar os outros motivados.

05 - Eleve suas expectativas.
Pessoas com sonhos grandes obtêm energia para crescer. Os perdedores dizem:
"isso não é para nós". Os vencedores pensam em como realizar seu objetivo.

06 - Curta muito a sua companhia.
Casamento dá certo para quem não é dependente. Aprenda a viver feliz mesmo sem homem/mulher ao lado. Se não tiver com quem ir ao cinema, vá com a pessoa mais fascinante: VOCÊ!

07 - Tenha metas claras.
A história da humanidade é cheia de vidas desperdiçadas: amores que não geram relações enriquecedoras, talentos que não levam carreiras ao sucesso, etc. Ter objetivos evita desperdícios de tempo, energia e dinheiro.

08 - Cuide bem do seu corpo.
Alimentação, sono e exercício são fundamentais para uma vida saudável. Seu corpo é seu templo. Gostar da gente deixa as portas abertas para os outros gostarem também.

09 - Declare o seu amor.
Cada vez mais devemos exercer o nosso direito de buscar o que queremos (sobretudo no amor). Mas atenção: elegância e bom senso são fundamentais.

10 - Amplie os seus relacionamentos profissionais.
Os amigos são a melhor referência em crises e a melhor fonte de oportunidades na expansão. Ter bons contatos é essencial em momentos decisivos.

11 - Seja simples.
Retire da sua vida tudo o que lhe dá trabalho e preocupação desnecessários.

12 - Não imite o modelo masculino do sucesso.
Os homens fizeram sucesso à custa de solidão e da restrição aos
sentimentos. O preço tem sido alto: infartos e suicídios. Sem dúvida, temos mais a aprender com as mulheres do que elas conosco. Preserve a sensibilidade feminina - é mais natural e mais criativa.

13 - Tenha um orientador.
Viver sem é decidir na neblina, sabendo que o resultado só será conhecido, quando pouco resta a fazer. Procure alguém de confiança, de preferência mais experiente e mais bem sucedido, para lhe orientar nas decisões, caso precise.

14 - Jogue fora o vício da preocupação.
Viver tenso e estressado está virando moda. Parece que ser competente e estar de bem com a vida são coisas incompatíveis. Bobagem? Defina suas metas, conquiste-as e deixe as neuras para quem gosta delas.

15 - O amor é um jogo cooperativo.
Se vocês estão juntos é para jogar no mesmo time.

16 - Tenha amigos vencedores.
Aproxime-se de pessoas com alegria de viver.

17 - Diga adeus a quem não o(a) merece.
Alimentar relacionamentos, que só trazem sofrimento é masoquismo, é atrapalhar sua vida. Não gaste vela com mau defunto. Se você estiver com um marido/mulher que não esteja compartilhando, empreste, venda, alugue, doe. E deixe o espaço livre para um novo amor.

18 - Resolva!
A mulher/homem do milênio vai limpar de sua vida as situações e os problemas desnecessários.

19 - Aceite o ritmo do amor.
Assim como ninguém vai empolgadíssimo todos os dias para o trabalho, ninguém está sempre no auge da paixão. Cobrar de si e do outro viver nas nuvens é o começo de muita frustração.

20 - Celebre as vitórias.
Compartilhe o sucesso, mesmo as pequenas conquistas, com pessoas queridas.
Grite, chore, encha-se de energia para os desafios seguintes.

21 - Perdoe!
Se você quer continuar com uma pessoa, enterre o passado para viver feliz.
Todo mundo erra, a gente também.

22 - Arrisque!
O amor não é para covardes. Quem fica a noite em casa sozinho, só terá que decidir que pizza pedir. E o único risco será o de engordar.

23 - Tenha uma vida espiritual.
Conversar com Deus é o máximo, especialmente para agradecer. Reze antes de dormir. Faz bem ao sono e a alma. Oração e meditação são fontes de inspiração.

Roberto Shinyashiki

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A velhice pede desculpas


Tão velho estou como árvore no inverno, 
vulcão sufocado, pássaro sonolento. 
Tão velho estou, de pálpebras baixas, 
acostumado apenas ao som das músicas, 
à forma das letras. 

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético 
dos provisórios dias do mundo: 
Mas há um sol eterno, eterno e brando 
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. 

Desculpai-me esta face, que se fez resignada: 
já não é a minha, mas a do tempo, 
com seus muitos episódios. 

Desculpai-me não ser bem eu: 
mas um fantasma de tudo. 
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, 
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. 

Desculpai-me viver ainda: 
que os destroços, mesmo os da maior glória, 
são na verdade só destroços, destroços. 

Cecília Meireles

terça-feira, 16 de abril de 2013

Também já fui brasileiro


Eu também já fui brasileiro moreno como vocês.

Ponteei viola, guiei forde e aprendi na mesa dos bares que o nacionalismo é uma virtude.

Mas há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.

Bastava olhar para mulher, pensava logo nas estrelas e outros substantivos celestes.

Mas eram tantas, o céu tamanho, minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo. Fazia isso, dizia aquilo.

E meus amigos me queriam, meus inimigos me odiavam.

Eu irônico deslizava satisfeito de ter meu ritmo.

Mas acabei confundindo tudo. Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não, não tenho ritmo mais não.

Carlos Drummond de Andrade

O dom do assassino


Durante tanto tempo lançou faíscas pelas estradas por onde andou, queimando a própria face em lágrimas ardentes, enquanto meus olhos, agora cegos por ti, não enxergam mais as trilhas, ou as sombras das árvores que me chamam a descansar.

 E ao olhar para trás, vejo o meu rastro, agora um incêndio, queimando sozinho.

Tanto tempo se passou e hoje vejo as marcas do meu incêndio, como negras
cicatrizes a acompanharem-me por toda a vida, como prova e lembrança de que não posso recuar, de que nunca mais poderei voltar e no teu Amor, não mais poderei deitar minha cabeça, ou olhar-te nos olhos e encontrar Você, tão puramente simples em existência, que é capaz de me consolar por simplesmente ainda estar vivo.

Queria ser tão puramente o Vento, a viajar distancias incalculáveis para que assim, um dia eu viesse a chegar onde tanto sonhei estar. 

Seria veneno, tentar enganar-me e nisso, sobre meu peito, pousar uma máscara, para ocultar meu coração e dessa maneira, revelar a quem sempre pertenceu.

Vou me lançar em queda e enquanto aguardo meu corpo se chocar contra as rochas ásperas que anseiam abraçar meu corpo, minhas lágrimas chamam por ti, na esperança de mais uma vez, voltar a deslumbrar-me com tua face, outrora, que me salvou de mim mesmo, quando ao abismo cheguei e lá, estavas tu a me esperar.

João Carlos Alves de Moraes - canto do Escritor - Literatura

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ondas de solidão


Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. 

Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? 

As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. 

São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. 

Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão. 

Eça de Queirós- Portugal, 1845 - 1900 

A ira nunca é súbita


A ira nunca é súbita. Nasce de um longo roer precedente, que ulcerou o espírito e nele acumulou a força reactiva necessária para a explosão. 

Daqui resulta que um belo acesso de cólera não é, de forma alguma, sinal de uma índole franca e directa. 

É, pelo contrário, revelação involuntária de uma tendência para nutrir dentro de si o rancor - isto é, de um temperamento fechado, invejoso, e de um complexo de inferioridade. 

O conselho de «estar em guarda contra quem nunca se irrita», significa, portanto, que - todos os homens, acumulando inevitavelmente ódio - convém ter especial cuidado com os que nunca se traem por acessos de ira. 

Quanto a ti, não fazes mal em ser insicero no teu remoer interior, mas em te traíres na explosão. 

Cesare Pavese- Itália, 1908 -1950 Escritor

A hipocrisia do ser


Para que servem esses píncaros elevados da filosofia, em cima dos quais nenhum ser humano se pode colocar, e essas regras que excedem a nossa prática e as nossas forças? 

Vejo frequentes vezes proporem-nos modelos de vida que nem quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que é pior, desejo de o fazer.

Da mesma folha de papel onde acabou de escrever uma sentença de condenação de um adultério, o juiz rasga um pedaço para enviar um bilhetinho amoroso à mulher de um colega. 

Aquela com quem acabais de ilicitamente dar uma cambalhota, pouco depois e na vossa própria presença, bradará contra uma similar transgressão de uma sua amiga com mais severidade que o faria Pórcia.

E há quem condene homens à morte por crimes que nem sequer considera transgressões. 

Quando jovem, vi um gentil-homem apresentar ao povo, com uma mão, versos de notável beleza e licenciosidade, e com outra, a mais belicosa reforma teológica de que o mundo, de há muito àquela parte, teve notícia.

Assim vão os homens. Deixa-se que as leis e os preceitos sigam o seu caminho: nós tomamos outro, não só por desregramento de costumes, mas também frequentemente por termos opiniões e juízos que lhes são contrários. 

Michel Eyquem de Montaigne -França 1533,1592 

A roda da fortuna


Não se move a roda, sem que a parte que virou para o céu seja maior repuxo para tocar na terra, e a parte que se viu no ar erguida se veja logo da mesma terra pisada, sem outro impulso para descer, mais que com o mesmo movimento com que subiu; por isso a fortuna fez trono da sua mesma roda, porque, como na figura esférica se não conhece nela primeiro nem último lugar, nas felicidades andam sempre em confusão as venturas. 

Na dita com que se sobe, vai sempre entalhado o risco com que se desce. Não há estrela no céu que mais prognostique a ruína de um grande, que o levantar de sua estrela. Mais depressa se move aos afagos da grandeza que nos lisonjeia, do que aos desfavores com que a fortuna nos abate.

Quanto trabalharam os homens para subir, tantas foram as diligências que fizeram para se arruinarem; porque, como a fortuna (falo com os que não são beneméritos) não costuma subir a ninguém por seus degraus, em faltando degraus para a descida, tudo hão-de ser precipícios; e diferem muito entre si o descer e o cair. 

Se perguntarmos o por que caiu Roma, o maior império do Mundo, dir-nos-á seu historiador que foi porque cresceu muito; e com efeito acabou de grande, e as mesmas mãos que a edificaram, essas mesmas a desfizeram. 

Sem mãos se arruinou aquela estátua de Nabuco, porque a mesma grandeza não necessita de mãos, mas só de si para se arruinar. 

Em um monte de glória onde assistiu Cristo, se formaram estas glórias dos raios do Sol e da brancura da neve, para que, desfazendo-se a neve com o sol, se desfizessem umas glórias com outras; porque não depende a grandeza, para a ruína, mais que de si mesma, e quando falte quem as acabe, elas mesmas se consomem. 

Padre António Vieira

domingo, 14 de abril de 2013

O Cinismo dos valores


Cada vez mais desesperado. Olho, olho, e só vejo negrura à minha volta. Fé? 

Evidentemente... Enquanto há vida, há esperança — lá diz o outro. Mas, francamente: fé em quê? 

Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciência? 

Peçam-me tudo, menos que tape os olhos. Bem basta quando a terra nos cobrir! 

Ah! mas a humanidade acaba por encontrar o seu verdadeiro caminho — dizem-me duas células ingênuas do entendimento. 

E eu respondo-lhes assim : Não, o homem não tem caminhos ideais e caminhos de ocasião. O homem tem os caminhos que anda. 

Ora este senhor, aqui há tempos, passou três séculos a correr atrás dum mito que se resumia em queimar, expulsar e perseguir uns outros homens, cujo pecado era este:

saber filosofia, medicina, física, astronomia, religião, comércio — coisas que já nessa época eram dignas e respeitáveis. 

Miguel Torga

Ninguém me ama a ponto de ser eu


Fiz o que era mais urgente: uma prece. Rezo para achar o meu verdadeiro caminho. 

Mas descobri que não me entrego totalmente à prece, parece-me que sei que o verdadeiro caminho é com dor. 

Há uma lei secreta e para mim incompreensível: só através do sofrimento se encontra a felicidade. 

Tenho medo de mim pois sou sempre apta a poder sofrer. Se eu não me amar estarei perdida — porque ninguém me ama a ponto de ser eu, de me ser. 

Tenho que me querer para dar alguma coisa a mim. Tenho que valer alguma coisa?

Oh protegei-me de mim mesma, que me persigo. Valho qualquer coisa em relação aos outros — mas em relação a mim, sou nada. 

É tão bom ter a quem pedir. Nem me incomodo muito se eu não for totalmente atendida. 

Eu peço a Deus para eu ser mais bonita — e não é que meu olho faísca ao mesmo tempo que meus lábios parecem mais doces e cheios? 

Eu peço a Deus tudo o que eu quero e preciso. É o que me cabe. 

Ser ou não ser atendida — isso não me cabe a mim, isto já é matéria-mágica que se me dá ou se retrai. Obstinada, eu rezo. 

Eu não tenho o poder. Tenho a prece. 

Clarice Lispector

A ama-seca


O Romualdo, marido de D. Eufêmia, era um rapaz sério, lá isso era, e tão incapaz de cometer a mais leve infidelidade conjugal como de roubar o sino de São Francisco de Paula; mas - vejam como o diabo as arma! 

Um dia D. Eufêmia foi chamada, a toda a pressa, a Juiz de Fora, para ver o pai que estava gravemente enfermo, e como o Romualdo não podia naquela ocasião deixar a casa comercial de que era guarda-livros (estavam a dar balanço), resignou-se a ver partir a senhora acompanhada pelos três meninos, o Zeca, o Cazuza, o Bibi, e a ama-seca deste último, que era ainda de colo.

Foi a primeira vez que o Romualdo se separou da família. Custou-lhe muito, coitado, e mais lhe custou quando, ao cabo de uma semana, D. Eufêmia lhe escreveu, dizendo que o velho estava livre de perigo, mas a convalescença seria longa, e o seu dever de filha era ficar junto dele um mês pelo menos.

O Romualdo resignou-se. Que remédio!...

Durante os primeiros tempos saía do escritório e metia-se em casa, mas no fim de alguns dias entendeu que devia dar alguns passeios pelos arrabaldes, hoje este, amanhã aquele. Era um meio, como outro qualquer, de iludir a saudade.

Uma noite coube a vez ao Andaraí Grande. O Romualdo tomou o bonde do Leopoldo, e teve a fortuna ou a desgraça de se sentar ao lado da mulatinha mais dengosa e bonita que ainda tentou um marido, cuja mulher estivesse em Juiz de Fora.

Nessa noite fatal a virtude do Romualdo deu em pantanas: tencionando ele ir até o fim da linha, como fazia todas as noites, apeou-se na Rua Mariz e Barros, ali pelas alturas da Travessa de São Salvador. A mulata havia se apeado algumas braças antes.

E ele viu, à luz de um lampião, o vulto dela saltitante e esquivo, e apressou o passo para apanhá-la, o que conseguiu facilmente, porque, pelos modos, ela já contava com isso.

- Boa noite!

- Boa noite.

- Como se chama?

- Antonieta.

- Pode dar-me uma palavra?

- Por que não falou no bonde?

- Era impossível... estava tanta gente... e estes elétricos são tão iluminados.

- Mas o sinhô bolinou que não foi graça! vamos, diga: que deseja?

- Desejo saber onde mora.

- Não tenho casa minha; estou empregada numa família ali mais adiante, por sinal que não estou satisfeita, e ando procurando outra arrumação.

- Onde poderemos falar em particular?

- Não sei.

- Você sai amanhã à noite?

- Amanhã não, porque saí hoje, e não quero abusá.

- Então, depois de amanhã?

- Pois sim.

- Onde a espero?

- Onde o sinhô quisé.

- Na Praça Tiradentes, no ponto dos bondes. As oito horas.

- Na porta do armazém do Derby?

- Isso!

- Tá dito! Inté depois d'amanhã às oito hora.

- Não falte!

- Não farto não!

No dia seguinte, o Romualdo contou a sua aventura a um companheiro de escritório que era useiro e vezeiro nessas cavalarias... baixas, e o camarada levou a condescendência ao ponto de confiar-lhe a chave de um ninho que tinha preparado adrede para os contrabandos do amor.

Antonieta foi pontual; à hora marcada lá estava à porta do Derby, com ares de quem esperava o bonde.

O Romualdo aproximou-se, fez um sinal, afastou-se e ela seguiu-o...

Dez dias depois, estava ele arrependidíssimo da sua conquista fácil, e com remorsos de haver enganado D. Eufêmia, aquela santa! 

Procurava agora meios e modos de se ver livre da mulata, cuja prosódia era capaz de lançar água na fervura da mais violenta paixão.

Vendo que não podia evitá-la, tomou o Romualdo a deliberação de fugir-lhe, e uma noite deixou-a à porta do ninho, esperando debalde por ele. Lembrou-se, mas era tarde, que havia prometido dar-lhe um anel, justamente nessa noite.

- Diabo! pensou ele, Antonieta vai supor que lhe fugi por causa do anel!

Voltou, afinal, D. Eufêmia de Juiz de Fora. Veio no trem da manhã, inesperadamente, e já não encontrou o marido em casa.

Estava furiosa, porque a ama-seca de Bibi deixara-se ficar na estação da Barra. Podia ser que não fosse de propósito. O mais certo, porém, era o ter sido desencaminhada por um sujeito que vinha no trem a namorá-la desde Paraíbuna.

Quando D. Eufêmia contou isso ao marido, acrescentou indignada:

- Que homens sem-vergonha!... Não podem ver uma mulata!...

O Romualdo perturbou-se, mas disfarçou, perguntando:

- E agora? E preciso anunciar! Não podemos ficar sem ama-seca!

- Já mandei o Zeca pôr um anúncio no Jornal do Brasil.

No dia seguinte, o Romualdo saiu muito cedo; ao voltar para casa, a primeira coisa que perguntou à senhora foi:

- Então? Já temos ama-seca?. .

- Já; é uma mulatinha bem jeitosa, mas tem cara de sapeca. Chama-se Antonieta.

- Hem? Antonieta?

- Que tens, homem?

- Nada; não tenho nada... E jeitosa?... Tem cara de sapeca?... Manda-a embora! Não serve! Nem quero vê-la!...

- Ora essa! Por quê? Olha, ela aí vem.

Antonieta chegou, efetivamente, com o Bibi ao colo; mas o Romualdo tinha fechado os olhos, dizendo consigo:

- Que escândalo!... rebenta a bomba!... este diabo vai reclamar o anel!.

Mas como nada ouvisse, o mísero abriu os olhos e - oh! milagre! - era outra Antonieta!.

Ele pensou, os leitores também pensaram que fosse a mesma; não era.

Decididamente, há um Deus para os maridos que enganam as suas mulheres.

Artur de Azevedo

Agenda da Felicidade


O sorriso... é o cartão de visita das pessoas saudáveis.
Distribua-o gentilmente.

O diálogo... é a ponte que liga as duas margens, do eu à do tu.
Transmite-o bastante.

O amor... é a melhor música na partitura da vida.
Sem ele, você será um(a) eterno(a) desafinado(a).

A bondade... é a flor mais atraente do jardim de um coração bem cultivado.
Plante estas flores.

A alegria... é o perfume gratificante, fruto do dever cumprido.
Esbanje-o, o mundo precisa dele.

A paz da consciência... é o melhor travesseiro para o sono da
tranqüilidade. Viva em paz consigo mesmo.

A fé... é a bússola certa para os navios errantes, incertos,
buscando as praias da eternidade. Utilize-a sempre.

A esperança...é o vento bom enfunando as velas do nosso barco.
Chame-o para dentro do seu cotidiano.

Acreditamos que com essa agenda... a felicidade pode ser a
companheira e aliada para tocar o barco da vida.

Autor Desconhecido

Busco um amigo

Busco um amigo, 

Que me diga sempre a verdade, que não camufle meus defeitos, que não despreze minhas lágrimas!
Um amigo...cuja presença traga alegria, cujo silêncio transmita a paz, cuja escuta inspire confiança, cuja lembrança infunda coragem.

Um amigo...ao qual eu possa dizer: desculpa! Uma, duas, três vezes...

Um amigo...que não seja nem mestre, nem discípulo, mas  um companheiro, com o qual eu possa caminhar rumo ao infinito em qualquer momento.

Um amigo...que conserve a sua intimidade sem esconder o seu pranto.

Um amigo...que ao amanhecer não me diga "bom dia", mas me abra o seu coração   com um amável sorriso!     

Um amigo...que creia na amizade e a viva como uma audaz conquista de liberdade...cuja amizade seja óleo doce, suave e perfumado, extraído do fruto amargo de uma árvore espinhosa.

Um amigo...que não se preocupe em dar ou receber, mas que seja capaz de compartilhar.

Um amigo...simples, sincero, natural... capaz de chorar, mas sobretudo de sorrir...

Um amigo...que seja um reflexo da bondade de Deus.

Reinilson Câmara 

Curriculum Vitae


Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado.

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.

Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei me viciando.

Já roubei beijo, Já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pro melhor amigo. Já confundi sentimentos,

Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus. 

Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.

Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. 

Conheci a morte de perto, e agora anseio por viver cada dia.  Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.

Já saí pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça, ouvindo estrelas. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.

Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.

Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.

Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim.

Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.

Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "- Qual sua experiência?"
Essa pergunta ecoa no meu cérebro: " Experiência...experiência..."

Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência?
Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!

Redação feita por um candidato num processo de seleção. Não sei se ele foi aprovado, mas seu texto está fazendo sucesso e ele com certeza será sempre lembrado pela sua criatividade, sua poesia e, acima de tudo, pela sua alma. 
O nome dele não aparece, infelizmente.

Tudo a ver


Você ama  aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu,  você deu flores que ela deixou a seco, você levou para conhecer a sua mãe  e ela foi de blusa transparente. 

Você gosta de rock e ela de chorinho,  você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela  detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então que ela  tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais  viciante do que LSD, você adora brigar com ela, ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste.  Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra  no armário, ele escuta Sivuca. 

Ele não emplaca uma semana nos empregos,  está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. 

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra  mim. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais.
Gosta dos filmes de Woody  Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia  romântica também tem o seu valor. 

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser  sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.

Gosta de viajar, de  música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. 

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém, adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você  inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. Ninguém ama outra  pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. 

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O  verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. 

Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa. 

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. 

Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. 

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é.

Roberto Freire

Fora de moda


Se não estivesse tão fora de moda... iria falar de Amor.  Daquele amor sincero, olhos nos olhos, frio no coração, aquela dorzinha gostosa de ter muito medo de perder tudo...

Daqueles momentos que só quem já amou um dia conhece bem...

Daquela vontade de repartir, de conquistar todas as coisas, mas não para retê-las no egoísmo material da posse, mas para doá-las no sentimento nobre de amar.

Se não estivesse tão fora de moda...Eu iria falar de Sinceridade.

Sabe, aquele negócio antigo de Fidelidade... Respeito mútuo... e aquelas outras coisas que deixaram de ter valor?

Aquela sensação que embriaga mais que a bebida; que é ter, numa pessoa só, a soma de tudo que às vezes procuramos em muitas...

A admiração pelas virtudes e a aceitação dos defeitos, mas, sobretudo, o respeito pela individualidade, que até julgamos nos pertencer, mas que cada um tem o direito de possuir...

Se não estivesse tão fora de moda...Eu iria falar em Amizade.

Na amizade que deve existir entre duas pessoas que se querem bem...

O apoio, o interesse, a solidariedade de um pelas coisas do outro e vice-versa. A união além dos sentimentos, a dedicação de compreender para depois gostar...

Se não estivesse tão fora de moda...Eu iria falar em Família. Sim...Família!

Essa instituição que ultimamente vive a beira da falência, sofrendo contínuas e violentas agressões. Pai, Mãe, Irmãos, Irmãs, Filhos, Lar...

Aquele bem maior de ter uma comunidade unida, pelos laços sangüíneos e protegidas pelas bençãos divinas. 

Um canto de paz no mundo, o aconchego da morada, a fonte de descanso e a renovação das energias...

E depois, eu iria até, quem sabe, falar sobre algo como... a Felicidade.

Mas é uma pena que a felicidade, como tudo mais, há muito tempo já esteja tão fora de moda e tenha dado seu lugar aos modismos da civilização...

Ainda assim, gostaria que a sua vida fosse repleta dessas questões tão fora de moda e que, sem dúvida, fazem a diferença!

Afinal, que mal faz ser um pouquinho "careta...

(Autor desconhecido)

Tudo depende só de mim.


Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. 

Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. 

Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. 

Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. 

Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. 

Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. 

Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. 

Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. 

Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. 

O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.

Charles Chaplin

O Caminho da Vida


O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

(O Último discurso, do filme O Grande Ditador)

Charles Chaplin

Recomeçar


Não importa onde você parou...em que momento da vida você cansou...
o que importa é que sempre é possível e necessário "RECOMEÇAR".

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...é renovar as esperanças na vida 
e o mais importante...acreditar em você de novo.

Sofreu muito nesse período? foi limpeza da alma...Ficou com raiva das pessoas? foi pra perdoá-las um dia...

Sentiu-se só por diversas vezes? é porque fechastes a porta até para os anjos...

Acreditou que tudo estava perdido? era o início da tua melhora...

Pois é...agora é hora de reiniciar...de pensar na luz...de encontrar prazer nas coisas simples de novo.

Que tal um corte de cabelo arrojado... diferente? Um novo curso... ou aquele velho desejo de aprender a pintar... desenhar... dominar o computador... ou qualquer outra coisa...

Olha quanto desafio... quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te esperando.
Tá se sentindo sozinho? Besteira... tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...

Tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu pra "chegar" perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza...nem nós mesmos nos suportamos...ficamos horríveis...O mal humor vai comendo nosso figado...até a boca fica amarga.

Recomeçar... hoje é um bom dia pra começar  novos desafios.

Onde você quer chegar? Ir alto... sonhe alto... queria o melhor do melhor... queria boas coisas para a vida...pensando assim trazemos pra nós aquilo que desejamos...se pensamos pequeno...coisas pequenas teremos...

Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor... O melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental, joga fora tudo que te prende ao passado...ao mundinho de coisas tristes....

Fotos... peças de roupas, papel de bala... ingressos de cinema, bilhetes de viagens...
e toda aquela tranqueira que guardamos, quando nos julgamos apaixonados...
jogue tudo fora... mas principalmente...esvazie seu coração... fique pronto para a vida...para um novo amor...

Lembre-se somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes...afinal de contas... Nós Somos o "Amor"

"Porque sou do tamanho daquilo que vejo e não do tamanho da minha altura".

Carlos Drummond de Andrade.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mundo Engraçado


O mundo está cheio de coisas engraçadas; quem se quiser distrair não precisa ir à Pasárgada do Bandeira, nem à minha Ilha do Nanja; não precisa sair de sua cidade, talvez nem da sua rua, nem da sua pessoa! (Somos engraçadíssimos, também, com tantas dúvidas, audácias, temores, ignorância, convicções...)

Abre-se um jornal – e tudo é engraçado, mesmo o que parece triste. Cada fato, cada raciocínio, cada opinião nos faria sorrir por muitas horas, se ainda tivéssemos horas disponíveis.

Há os mentirosos, por exemplo. E pode haver coisa mais engraçada que o mentiroso? 

Ele diz isto e aquilo, com a maior seriedade; fala-nos de seus planos; de seus amigos (poderosos, influentes, ricos); queixa-se de algumas perseguições (que aliás, profundamente despreza); às vezes conta-nos que foi roubado em algum quadro célebre ou numa pedra preciosa, oferecida à sua bisavó pelo Primeiro Ministro da Cochinchina. 

O mentiroso conhece as maiores personalidades do Mundo – trata-as até por tu! Seus amores são a coisa mais poética do século. Suas futuras viagens prometem ser as mais sensacionais, depois dessas banalidades de UIisses e Simbad... 

Certamente escreverá o seu diário, mas não o publicará jamais, porque é preciso um papel que não existe, um editor que ainda não nasceu e um leitor que terá de sofrer várias encarnações para ser digno de o entender.

Em geral os mentirosos são muito agradáveis, desde que não se tome como verdade nada do que dizem. E esse é o inconveniente: às vezes, leva-se algum tempo para se fazer a identificação. 

Uma vez feita, porém, que maravilha! – é só deixá-los falar. É como um sonho, uma história de aventuras, um filme colorido.

Há também os posudos. Os posudos ainda são mais engraçados que os mentirosos e geralmente acumulam as funções. 

O que os torna mais engraçados é serem tão solenes. Os posudos funcionários são deslumbrantes! Como se sentam à sua mesa! Como consertam os óculos! Que coisas dizem! 

As coisas que dizem são poemas épicos com a fita posta ao contrário. Não se entende nada – mas que diapasão! Que delicadas barafundas! Que sons! Que ritmos! 

Seus discursos e as palmas que os acompanham conseguem realizar o prodígio de serem a coisa mais cômica da terra pronunciada no tom mais sério, mais grave, mais trágico – de modo que o ouvinte, que rebenta de rir por dentro, sofre uma atrapalhação emocional e consegue manter-se estático, paralisado, equivocado.

Os posudos, porém, são menos agradáveis que os simples mentirosos. Os mentirosos têm um jeito frívolo, como se andassem acompanhados de um criado que anunciasse: "Não creiam em nada do que o meu amo diz!" 

Mas os posudos levam um séqüito de criados, todos posudos também, que recolhem nas sacolas, grandes e pequenas gorjetas, porque uma das qualidades do posudo é andar sempre com muito dinheiro – que não é seu!

Cecília Meireles

A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. 

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

terça-feira, 9 de abril de 2013

Carta de um soldado desconhecido


" Escuta Deus,
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te-: Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram que tu não existe e eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado tua obra.
Ontem à noite da trincheira rasgada por granadas, vi teu céu estrelado e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás minha mão .Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo achei a luz para enxergar teu rosto.
Dito isto já não tenho muita coisa a te contar.
Só que... que... tenho muito prazer em conhecer-te.
Fazemos um ataque à meia noite.
Não tenho medo.
Deus, sei que tu velas...
Ah! É o clarim! Bom Deus, devo ir-me embora.
Gostei de ti, vou ter saudade. 
Quero dizer, será cruenta a luta, bem o sabes, e esta noite pode ser que eu vá bate a tua porta!
Muito amigos não fomos é verdade.
Mas sim... estou chorando! Vê Deus, penso que já não sou tão mau.
Bom Deus, tenho que ir. Sorte é coisa bem rara.
Juro porém que já não receio a morte... " 

Bilhete encontrado na farda de um soldado desconhecido, morto na segunda grande guerra,no primeiro ataque à Monte Castelo

Elegância


Existe uma coisa difícil de ser ensinada  e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara : a elegância do comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que  dizer um simples obrigado diante de uma  gentileza.

É a elegância que  nos acompanha da primeira hora da  manhã até a hora de  dormir e que se manifesta  nas situações mais prosaicas, quando não há festa  alguma nem  fotógrafos por  perto.

É uma elegância  desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas  que elogiam mais do  que criticam.

Nas pessoas que escutam  mais do que falam.  E quando  falam, passam longe da  fofoca, das pequenas  maldades ampliadas no  boca a boca.

É possível detectá-la  nas pessoas que não  usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.

Nas pessoas que evitam  assuntos  constrangedores porque não sentem prazer  em humilhar  os outros. É possível detectá-la  em pessoas  pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse  por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem  está falando e só depois manda dizer se está ou não  está.

Oferecer flores é sempre  elegante. É elegante não ficar espaçoso  demais.

É elegante, você fazer algo por alguém ,  e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar  para o  fazer...

É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao  outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos  informais.

É elegante  retribuir carinho e solidariedade. É elegante o  silêncio,  diante de uma  rejeição....

Sobrenome, jóias e nariz empinado  não substituem  a elegância do Gesto.

Não há livro que ensine alguém  a ter uma visão generosa do mundo,  a estar nele de uma forma não  arrogante.

É elegante a gentileza,.atitudes gentis falam mais que  mil imagens...

...Abrir a porta para alguém...é muito  elegante...Dar o lugar para alguém sentar...é muito  elegante...Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem  danado para a alma...

Oferecer ajuda...é muito  elegante...Olhar nos olhos, ao conversar  é  essencialmente elegante

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural  pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.

A saída  é desenvolver em si mesma a arte de conviver, que independe de status social:  é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu,  que acha que "com amigo não tem que ter estas  frescuras".

Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é  que não irão  desfrutá-la.

Educação enferruja por falta de  uso. E, detalhe : não é  frescura.

( Toulouse Lautrec )