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domingo, 14 de abril de 2013

Tudo a ver


Você ama  aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu,  você deu flores que ela deixou a seco, você levou para conhecer a sua mãe  e ela foi de blusa transparente. 

Você gosta de rock e ela de chorinho,  você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela  detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então que ela  tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais  viciante do que LSD, você adora brigar com ela, ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste.  Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra  no armário, ele escuta Sivuca. 

Ele não emplaca uma semana nos empregos,  está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. 

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra  mim. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais.
Gosta dos filmes de Woody  Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia  romântica também tem o seu valor. 

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser  sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.

Gosta de viajar, de  música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. 

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém, adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você  inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. Ninguém ama outra  pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. 

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O  verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. 

Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa. 

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. 

Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. 

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é.

Roberto Freire