terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Abaixo o bico de pato!


Para que se esconder atrás de uma expressão nula, como se os anos não nos tivessem ensinado absolutamente nada?”.

Há quatro anos, a revista Veja estampou, lado a lado, fotos da atriz Christiane Torloni e da mãe dela, Monah Delacy, ambas aos 51 anos. Os registros, separados por quase três décadas, mostram como a ciência tem conseguido, de maneira inequívoca, retardar o envelhecimento. Na foto, o frescor de Christiane contrasta com a severidade do ar da mãe, quando tinha a mesma idade da filha.

É fato que hoje podemos nos gabar de estar mais jovens por mais tempo. Nossas mães faziam o tipo “matrona” e já se era velha aos 40. Felizmente, essa imagem ficou congelada no passado. Dito isso, é preciso reconhecer que estamos exagerando – e muito – no esforço de parecer mais novas.

Eu já passei dos 50 e, ao me olhar no espelho todos os dias, sinto que já não sou como nos velhos tempos. Mas confesso que não retrocederia um único dia na minha biografia. Em alguns aspectos, estou bem melhor: mais confiante, mais sábia e até mais curvilínea. É, aqueles quilinhos a mais foram parar nos lugares certos. Menos mal. E não posso mais enfiar o pé na jaca. Continuo “boca santa”, como se diz lá em Minas, mas ficaram para trás os tempos em que me fartava de comida e bebida. O velho estômago tem me condenado a uma vida mais monástica.

O que mais me preocupa, no entanto, é olhar ao redor e ver mulheres com bico de pato, de tanto preenchimento nos lábios, olhar estatelado e expressão ausente, como se tivessem recebido um carimbo de “nada consta” na cara. Isso fica ainda mais evidente quando se vai a bairros nobres, onde elas circulam com suas roupas de grife e ar meio súplice, como a pedir desculpas pela inexpressividade. Cenas da vida real que lembram a da madrasta do filme “A Nova Cinderela”, de 2004, em que a atriz Jennifer Coolidge parece um pesadelo embebido em botox.

É claro que me preocupo em não ficar caída; me cuido, tenho uma vida saudável, mas me recuso a me esconder atrás de uma expressão nula, como se os anos não me tivessem ensinado absolutamente nada. 

Por que não podemos aceitar o envelhecimento sem culpa, como o fazem os homens? Às vezes não dá inveja da sem-cerimônia com que eles andam por aí balançando barrigas de cerveja? Não precisamos exagerar, claro. Mas podemos, sim, ser mais benevolentes conosco. Não precisamos parecer o que não somos mais. E, cá pra nós, temos que conservar músculos faciais fortes e expressivos. Nem que seja para rir por último!


A vida nas mãos da mãe


A criança, nos primeiros anos de vida, recebe quase tudo de sua mãe. Não só alimentação e calor, segurança e roupa, sorriso, palavra e amor, a mãe lhe abre também o mundo exterior: o contato com as pessoas, animais, plantas e coisas...

O ambiente da criança brota do ambiente materno: o que a mãe não ama, as pessoas e as coisas com que se ocupa, o convívio com seu marido, deixam sua marca no mundo da criança, ainda em formação.


A  própria mãe amadurece intimamente nesse dar e receber. A cada passo ela tem de examinar e aprofundar sua atitude diante dos valores da vida. 


Pelo segredo da criança e pela responsabilidade assumida ela torna-se mais consciente e adquire experiências até então desconhecidas.


O mundo da criança foi também o mundo da mãe. Ela foi a medida de todas as coisas. Sabia o que era bom ou ruim. Agora a criança se liberta e seu mundo fica maior. 


Uma nova dimensão de experiência fá-la crescer. Outras pessoas entram em sua vida e deixam sua marca. Ela torna-se autônoma, cresce entre o sucesso e o fracasso e aprende a se conhecer dia a dia: no estudo, na diversão, no trato com os amigos...


Mas, a mãe será sempre a amiga, que estará onde for necessário; que sabe ajudar no jogo de esconde-esconde ou remendar uma calça rasgada sem grande alarde, que respeita o segredo da criança, sabe aguardar, consolar e encontrar resposta às perguntas difíceis.


Apesar disso, a criança tem consciência de que precisa conquistar o mundo. E, para o mundo lhe ser feliz, não basta estar repleto de conhecimentos escolares e mil impressões desconexas, mas é absolutamente necessário ter a formação da alma e do coração. E isto está amplamente nas mãos da mãe.


"Este texto tem como fonte uma revista do ano de 1973, que se  intitula ECOS MARIANOS.  Não mostra o nome do autor(a)."

Percepção da solidão


Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início do filme. 
Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também. O filme começa.

Charada: qual das duas está mais sozinha?


Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. 

Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher. 
Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.
Muitas mulheres já viveram isso - e homens também. 
Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento - há alguém a sua espera em casa. 
Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Você está sozinha, não é sozinha.
Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. 
Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.
Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. 
Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor. 
No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. 
É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?
Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo. 
Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos.
Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. 
Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.

Martha Medeiros