terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ser mãe:uma quase profissão


Há algum tempo tenho percebido que diversas mães se declaram incompetentes diante de sua tarefa de educar os filhos. Há também as que se sentem fracassadas quando percebem que o que elas almejavam para os filhos não se concretizou.
Claro que há pais que se sentem da mesma maneira, mas minha experiência aponta um número maior de mulheres sofrendo com esses sentimentos.
Há uma tendência social de se avaliar a mulher pelo êxito do seu filho, isso desde a mais tenra idade.
O filho andou precocemente? Já escreve e identifica o próprio nome escrito em letras aos três anos? Desenha como um artista? É um dos primeiros alunos da classe? Tem destaque na escolinha de futebol? Entrou na faculdade considerada top?
Ah! Mães com filhos que realizam tais feitos costumam ser avaliadas como boas mães. Elas souberam o que fazer e como fazer para que os filhos atingissem tais feitos costumam considerar as pessoas com quem essas mães convivem.
Já se o filho não fala corretamente, faz birra em público, não gosta de estudar, dá trabalho para comer, repete o ano escolar e é desobediente, coitadas dessas mães! Não sabem como exercer bem o seu papel, pensam outras pessoas, sem disfarçar os olhares reprovadores. 
E, então, indicam profissionais para acompanhamento da criança, literatura especializada, revistas e programas de TV que certamente irão ajudar a pobre mãe. Até a escola costuma fazer orientações para pais.
Você deve ter percebido, caro leitor, que ser mãe ou pai na atualidade ganhou um caráter quase profissional.
Há uma infinidade de recursos disponíveis, hoje, para mulheres e homens que queiram realizar bem sua tarefa com os filhos. Não estranharei se, em breve, for criado um curso de pós-graduação lato sensu sobre educação de filhos.
Sim, porque até agora os cursos tratam de alunos, papel social muito diferente do de filhos, não é?
Dá, portanto, para começar a entender o sentimento dessas mães. Elas não se sentem especialistas em maternidade. E perseguem o tempo todo uma fórmula para dar conta do que acham que precisam dar conta.
O que elas esquecem nessa empreitada é que os filhos ficam diferentes a cada dia. E é justamente por isso que a maioria das atitudes que tomam com as crianças ou os adolescentes tem eficácia de curto tempo. E elas pensam que o que fizeram não deu certo. Deu, mas apenas por pouco tempo.
Se as mães e os pais escutarem atentamente os filhos e tiverem com eles um vínculo de proximidade, irão perceber a hora de mudar de estratégia. Eles, os filhos, dão os sinais.
Outra coisa que mães e pais precisam considerar é que as crianças do século 21 não seguem mais padrões de desenvolvimento.
Cada um vive em um ambiente específico, tem um tipo de relação com os pais e, por isso, serão bem diferentes de seus pares de mesma idade. Comparar os filhos no mundo da diversidade não é, com certeza, uma boa escolha!
Mães e pais não devem se sentir fracassados ou incompetentes, pois os filhos precisam justamente do sentimento de potência que os adultos demonstram. 
Mães e pais não costumam fracassar: costumam errar. E não há nenhum problema em errar: os filhos superam nossos erros com mais facilidade do que nós.
E tem mais: não há certo ou errado quando o assunto é a educação dos filhos. Há princípios, há valores, há a moral familiar e social, há o bem conviver, o respeito e a dignidade. 
E há estratégias que funcionam por um tempo e estratégias que não funcionam, apenas isso.
Os sentimentos de fracasso e de incompetência podem inibir o exercício da maternidade e da paternidade.
Mais importantes que qualquer conhecimento específico são os afetos porque são eles que conduzem os pais.

Rosely Sayão

Abaixo o bico de pato!


Para que se esconder atrás de uma expressão nula, como se os anos não nos tivessem ensinado absolutamente nada?”.

Há quatro anos, a revista Veja estampou, lado a lado, fotos da atriz Christiane Torloni e da mãe dela, Monah Delacy, ambas aos 51 anos. Os registros, separados por quase três décadas, mostram como a ciência tem conseguido, de maneira inequívoca, retardar o envelhecimento. Na foto, o frescor de Christiane contrasta com a severidade do ar da mãe, quando tinha a mesma idade da filha.

É fato que hoje podemos nos gabar de estar mais jovens por mais tempo. Nossas mães faziam o tipo “matrona” e já se era velha aos 40. Felizmente, essa imagem ficou congelada no passado. Dito isso, é preciso reconhecer que estamos exagerando – e muito – no esforço de parecer mais novas.

Eu já passei dos 50 e, ao me olhar no espelho todos os dias, sinto que já não sou como nos velhos tempos. Mas confesso que não retrocederia um único dia na minha biografia. Em alguns aspectos, estou bem melhor: mais confiante, mais sábia e até mais curvilínea. É, aqueles quilinhos a mais foram parar nos lugares certos. Menos mal. E não posso mais enfiar o pé na jaca. Continuo “boca santa”, como se diz lá em Minas, mas ficaram para trás os tempos em que me fartava de comida e bebida. O velho estômago tem me condenado a uma vida mais monástica.

O que mais me preocupa, no entanto, é olhar ao redor e ver mulheres com bico de pato, de tanto preenchimento nos lábios, olhar estatelado e expressão ausente, como se tivessem recebido um carimbo de “nada consta” na cara. Isso fica ainda mais evidente quando se vai a bairros nobres, onde elas circulam com suas roupas de grife e ar meio súplice, como a pedir desculpas pela inexpressividade. Cenas da vida real que lembram a da madrasta do filme “A Nova Cinderela”, de 2004, em que a atriz Jennifer Coolidge parece um pesadelo embebido em botox.

É claro que me preocupo em não ficar caída; me cuido, tenho uma vida saudável, mas me recuso a me esconder atrás de uma expressão nula, como se os anos não me tivessem ensinado absolutamente nada. 

Por que não podemos aceitar o envelhecimento sem culpa, como o fazem os homens? Às vezes não dá inveja da sem-cerimônia com que eles andam por aí balançando barrigas de cerveja? Não precisamos exagerar, claro. Mas podemos, sim, ser mais benevolentes conosco. Não precisamos parecer o que não somos mais. E, cá pra nós, temos que conservar músculos faciais fortes e expressivos. Nem que seja para rir por último!


A vida nas mãos da mãe


A criança, nos primeiros anos de vida, recebe quase tudo de sua mãe. Não só alimentação e calor, segurança e roupa, sorriso, palavra e amor, a mãe lhe abre também o mundo exterior: o contato com as pessoas, animais, plantas e coisas...

O ambiente da criança brota do ambiente materno: o que a mãe não ama, as pessoas e as coisas com que se ocupa, o convívio com seu marido, deixam sua marca no mundo da criança, ainda em formação.


A  própria mãe amadurece intimamente nesse dar e receber. A cada passo ela tem de examinar e aprofundar sua atitude diante dos valores da vida. 


Pelo segredo da criança e pela responsabilidade assumida ela torna-se mais consciente e adquire experiências até então desconhecidas.


O mundo da criança foi também o mundo da mãe. Ela foi a medida de todas as coisas. Sabia o que era bom ou ruim. Agora a criança se liberta e seu mundo fica maior. 


Uma nova dimensão de experiência fá-la crescer. Outras pessoas entram em sua vida e deixam sua marca. Ela torna-se autônoma, cresce entre o sucesso e o fracasso e aprende a se conhecer dia a dia: no estudo, na diversão, no trato com os amigos...


Mas, a mãe será sempre a amiga, que estará onde for necessário; que sabe ajudar no jogo de esconde-esconde ou remendar uma calça rasgada sem grande alarde, que respeita o segredo da criança, sabe aguardar, consolar e encontrar resposta às perguntas difíceis.


Apesar disso, a criança tem consciência de que precisa conquistar o mundo. E, para o mundo lhe ser feliz, não basta estar repleto de conhecimentos escolares e mil impressões desconexas, mas é absolutamente necessário ter a formação da alma e do coração. E isto está amplamente nas mãos da mãe.


"Este texto tem como fonte uma revista do ano de 1973, que se  intitula ECOS MARIANOS.  Não mostra o nome do autor(a)."

Percepção da solidão


Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início do filme. 
Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também. O filme começa.

Charada: qual das duas está mais sozinha?


Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. 

Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher. 
Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.
Muitas mulheres já viveram isso - e homens também. 
Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento - há alguém a sua espera em casa. 
Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Você está sozinha, não é sozinha.
Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. 
Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.
Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. 
Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor. 
No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. 
É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?
Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo. 
Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos.
Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. 
Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.

Martha Medeiros