sábado, 15 de julho de 2017

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras 
Em que rí e cantei, em que era querida, 
Parece-me que foi outras esferas, 
Parece-me que foi numa outra vida... 

E a minha triste boca dolorida 
Que dantes tinha o rir das primaveras, 
Esbate as linhas graves e severas 
E cai num abandono de esquecida! 

E fico, pensativa, olhando o vago... 
Toma a brandura plácida dum lago 
O meu rosto de monja de marfim... 

E as lágrimas que choro, branca e calma, 
Ninguém as vê brotar dentro da alma! 
Ninguém as vê cair dentro de mim!” 
― Florbela Espanca

domingo, 7 de maio de 2017

Zé Dirceu

Zé Dirceu quer se mudar, porque sua filha Maria Antônia está traumatizada com os gritos de ‘ladrão’ e ‘volta pra cadeia’, que ecoam em frente ao prédio em que reside.

É Zé. Deixe-me dizer uma coisa. Se essa menina tiver sorte, você vai voltar pra cadeia e não será criada por alguém como você. Um dia ela terá consciência crítica. E será muito pior. Terá que conviver com a vergonha eterna de ser apontada como filha de ladrão, filha de um escroque. Filha de um cara que ajudou (e muito) a arruinar o país.

Sabe Zé, tenho muitas crianças aqui, com a idade da Maria Antônia, cujos pais perderam o emprego, por sua causa. Por causa das políticas desastrosas que você ajudou a implementar, por causa da roubalheira que você tanto se beneficiou.

Os cobertores que aquecem a sua Maria Antônia (que devem ser muitos e luxuosos), faltam na outra Maria Antônia daqui. E aqui faz muito frio.

Aliás, falta também a comida decente e honesta, que se foi com o emprego dos pais. Falta uma boa escola, que se foi com o seu enriquecimento ilícito e nababesco.

Por isso Zé, tenho pena da sua Maria Antônia. Mas tenho mais pena da outra Maria Antônia. Espero sinceramente que a justiça faça o seu papel. Para que eu não precise nunca mais sentir pena das Marias, Pedros, Paulos, Andrés, Sílvias e de todas as outras crianças brasileiras, cujo futuro você tentou destruir.

Adriana Lisboa, Médica em Santa Catarina.

sábado, 29 de abril de 2017

Padres de passeata



Há quem pergunte, mas não, a expressão "padres de passeata" não é minha. É velha, ou melhor, é do grande escritor Nelson Rodrigues. Foi ele quem analiticamente escreveu e descreveu a situação da Igreja no Brasil:
"A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa."

Neste passado dia 28 os padres de passeata saíram às ruas...aqueles que que quando Dilma cortou o seguro desemprego não deram um pio, aqueles que quando Dilma apresentou o mesmíssimo projeto de reformas de Temer não deram um pio, aqueles que nunca piaram sobre Pasadena, roubo bilionário à Petrobrás e aos cofres públicos, aqueles que nunca usam o hábito ou a batina porque, segundo eles, é coisa retrógrada de uma igreja conservadora, mas que ontem puseram seus hábitos novinhos em folha ou melhor, em ótimo tecido para fazer de conta que sua adesão ao esquerdismo, ao sindicato e à defesa de um ex governo vigarista é o apoio da Igreja.

Enganam-se redondamente...a Igreja, o povo de Deus, foi trabalhar porque já despertou e não mais segue a auto-proclamada "alma mais pura do Brasil" o "pobrezinho de Garanhuns" que foi apresentado como o Messias e, como todo ídolo, falso messias e falso deus, revelou-se a prostituta de um certo empresário.

O tempo vai revelando os falsos deuses e os falsos messias...eles irão, mais cedo ou mais tarde para a vala infecta da História. Hão de seguí-los também seus escribas, sacerdotes e pregoeiros.

- PadreCléber Eduardo Dos Santos Dias