terça-feira, 9 de abril de 2013

Carta de um soldado desconhecido


" Escuta Deus,
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te-: Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram que tu não existe e eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado tua obra.
Ontem à noite da trincheira rasgada por granadas, vi teu céu estrelado e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás minha mão .Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: neste inferno hediondo achei a luz para enxergar teu rosto.
Dito isto já não tenho muita coisa a te contar.
Só que... que... tenho muito prazer em conhecer-te.
Fazemos um ataque à meia noite.
Não tenho medo.
Deus, sei que tu velas...
Ah! É o clarim! Bom Deus, devo ir-me embora.
Gostei de ti, vou ter saudade. 
Quero dizer, será cruenta a luta, bem o sabes, e esta noite pode ser que eu vá bate a tua porta!
Muito amigos não fomos é verdade.
Mas sim... estou chorando! Vê Deus, penso que já não sou tão mau.
Bom Deus, tenho que ir. Sorte é coisa bem rara.
Juro porém que já não receio a morte... " 

Bilhete encontrado na farda de um soldado desconhecido, morto na segunda grande guerra,no primeiro ataque à Monte Castelo

Elegância


Existe uma coisa difícil de ser ensinada  e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara : a elegância do comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que  dizer um simples obrigado diante de uma  gentileza.

É a elegância que  nos acompanha da primeira hora da  manhã até a hora de  dormir e que se manifesta  nas situações mais prosaicas, quando não há festa  alguma nem  fotógrafos por  perto.

É uma elegância  desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas  que elogiam mais do  que criticam.

Nas pessoas que escutam  mais do que falam.  E quando  falam, passam longe da  fofoca, das pequenas  maldades ampliadas no  boca a boca.

É possível detectá-la  nas pessoas que não  usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.

Nas pessoas que evitam  assuntos  constrangedores porque não sentem prazer  em humilhar  os outros. É possível detectá-la  em pessoas  pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse  por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem  está falando e só depois manda dizer se está ou não  está.

Oferecer flores é sempre  elegante. É elegante não ficar espaçoso  demais.

É elegante, você fazer algo por alguém ,  e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar  para o  fazer...

É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao  outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos  informais.

É elegante  retribuir carinho e solidariedade. É elegante o  silêncio,  diante de uma  rejeição....

Sobrenome, jóias e nariz empinado  não substituem  a elegância do Gesto.

Não há livro que ensine alguém  a ter uma visão generosa do mundo,  a estar nele de uma forma não  arrogante.

É elegante a gentileza,.atitudes gentis falam mais que  mil imagens...

...Abrir a porta para alguém...é muito  elegante...Dar o lugar para alguém sentar...é muito  elegante...Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem  danado para a alma...

Oferecer ajuda...é muito  elegante...Olhar nos olhos, ao conversar  é  essencialmente elegante

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural  pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.

A saída  é desenvolver em si mesma a arte de conviver, que independe de status social:  é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu,  que acha que "com amigo não tem que ter estas  frescuras".

Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é  que não irão  desfrutá-la.

Educação enferruja por falta de  uso. E, detalhe : não é  frescura.

( Toulouse Lautrec )

A águia e a galinha


Certa  vez,  um camponês andando pela floresta, encontra caído  ao  chão um ninho de águia, com um filhote bastante machucado, que havia caído junto com o ninho do galho mais alto, de uma das árvores mais alta do local.

Com  pena da ave, levou-a para sua casa e tratou-a dia a dia. Aos poucos  foi  se recuperando, e o nosso camponês, sem ter onde deixá-la, acabou colocou-a no galinheiro, junto com as suas galinhas.

E,  assim,  a  aguiazinha  foi crescendo e aprendeu a se comportar exatamente como as galinhas. Os  anos  se  passaram.  Certo dia, o camponês recebeu a visita de um naturalista que, ao ver a águia no galinheiro, afirmou:

"Este  pássaro  não é uma galinha, é uma águia, a rainha das  aves,  aquela  que  voa mais alto e que mais perto chega do céu e do sol.  A maior de todas as aves".

O camponês confirmou o que ouviu, mas retrucou: "Não. Ela  já  foi  uma águia. Ela foi águia quando nasceu, mas hoje é uma galinha. Veja, ela se comporta exatamente igual às galinhas".

O  naturalista não se conformou e pediu ao camponês para deixá-lo  libertar  a  águia. 

O  camponês  não  tinha  nada a opor, mas advertiu: "Não  adianta.  Você verá que ela não é mais uma águia, pois  eu  não  sei há quanto tempo ela já está aqui e durante todos esses anos ela sempre se comportou como uma galinha".

O naturalista pegou a águia e dise: "Você  sempre  foi,  é  e sempre será uma águia.  Você nasceu  para  voar  muito alto, para ser a maior de todas as aves, a mai poderosa.

Você  não  é uma simples galinha.  Vamos, voe em direção ao céu e ao sol, pois é o seu destino".

A águia olhou para baixo, viu as galinhas e pulou para o chão, ficando entre elas.   O camponês comentou : "Não  lhe disse?  Ela perdeu o espírito de águia e agora é uma simples galinha".

O naturalista não se conformou e retrucou: "Não. A  natureza  dela  não  é  essa.  Amanhã vamos levá-la para o alto da montanha mais alta, lá ela verá o sol e voará como uma águia que é".

 E  assim fizeram.  No dia seguinte levaram a águia até o alto da montanha mais alta e o naturalista repetiu :

 "Vamos! Você é uma águia, uma das mais belas criações de Deus.   Você foi feita para vencer, não pode continuar agindo como uma simples  galinha. Voe. Observe o céu e o sol, eles são os seus objetivos, e não a terra, o chão de um galinheiro".

 A princípio a águia, de forma muito medrosa, procurou as galinhas,  mas  como  não  as  encontrou por perto, passou nervosamente a bater as suas enormes asas, com quase 3 metros de envergadura; aos poucos foi  criando coragem e depois de algumas tentativas frustradas e de muito medo  conseguiu alçar pequenos vôos. 

Mais um pouco e ela se sentiu com a coragem necessária para voar em direção ao sol e ao céu; e lá foi ela, galhardamente,  realizar  o  seu  projeto de vida, para o qual havia sido criada.

Nós, seres humanos, também viemos ao mundo para realizar todos os nossos projetos e sonhos...

Ao  longo da vida entretanto, alguns perdem essa coragem e   desistem   de   buscar  a  sua  própria  realização,  desfigurando-se completamente.

Acomodam-se e  se  deixam  levar  pelos  obstáculos  e dificuldades  que  a  vida  apresenta.  Não conseguem reter o espírito de luta  que  faz  de alguns os grandes vencedores, mas que nasceu com todos nós.

A  águia  é uma ave de rapina e nisto ela é exatamente o oposto  do  que temos de ser ao longo da nossa vida e da nossa profissão, porque  não  nascemos  para  viver de "expedientes de rapina", mas sim da nossa  maravilhosa  capacidade  de  construir sempre um mundo melhor para todos,  sejam  eles  nossos  familiares,  clientes  ou  empresas, pois ao produzir, seja o que for, estamos melhorando a vida de todas as pessoas. 

Mas,  assim  como a águia, viemos ao mundo para realizar grandes  e  bonitos "vôos ao longo da vida", transformar os nossos sonhos em realidade e . . .  vencer. 

 Às  vezes,  a  vida  nos  apresenta  situações  em que é difícil ser águia e sairmos "voando" em direção ao céu dos nosso sonhos e ao  sol  das nossas realizações, mas temos de ACREDITAR SEMPRE que isto é uma situação passageira e que logo voltaremos a ter o espírito de vitória com  que nascemos, lutando para buscar sempre a plena realização de todos os nossos sonhos.

Assim  como  a  águia,  viemos  ao mundo com a missão de superar  todos os obstáculos que se apresentarem, pois temos de, todos os dias,  começar  sempre tudo de novo -- não adiantará absolutamente nada o sucesso  ou  o  fracasso...de  ontem -- e não importa o que já aconteceu, tenha  sito  ótimo ou péssimo, pois o que importa mesmo é ...  o que você fará acontecer hoje !!! 

Semelhante  à  águia,  busque  ser  a realização da obra maior  de Deus e lute sempre, pois é isso que diferencia os que vencem... dos que se lamentam..


Do livro A AGUIA E A GALINHA  de Leonardo Boff