sábado, 15 de julho de 2017

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras 
Em que rí e cantei, em que era querida, 
Parece-me que foi outras esferas, 
Parece-me que foi numa outra vida... 

E a minha triste boca dolorida 
Que dantes tinha o rir das primaveras, 
Esbate as linhas graves e severas 
E cai num abandono de esquecida! 

E fico, pensativa, olhando o vago... 
Toma a brandura plácida dum lago 
O meu rosto de monja de marfim... 

E as lágrimas que choro, branca e calma, 
Ninguém as vê brotar dentro da alma! 
Ninguém as vê cair dentro de mim!” 
― Florbela Espanca