segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Medo da solidão

As vezes as pessoas se jogam em relacionamentos pelo simples medo de ficarem sozinhas. Eu não as julgo e nem condeno a ninguém. 

Porém, me causa surpresa ao perceber o quanto tem mais gente machucada por relacionamentos mal sucedidos do que as que sofrem um pouco por estarem sozinhas. 

As vezes faz um bem enorme para a vida e para purificar os sentidos, podermos ficar sozinhos e plenificarmos nossa solidão. Não estou falando da solidão do abandono, da fuga ou da depressão. 

Existe uma solidão que acompanha todo ser humano, seja ele casado ou solteiro. A solidão que o permite encontrar se consigo mesmo e com as realidades mais profundas da existência. 

Não se trata de uma solidão qualquer, é uma solidão fecunda e muita profunda. Ela é própria das pessoas bem resolvidas, reflexivas e que não querem viver a vida de qualquer forma. 

Esta solidão cura, transforma e permite ao ser humano encontrar sua origem e a razão de sua vida. Esta solidão precisa ser bem direcionada e bem vivida. Não é a solidão dos decepcionados ou magoados. 

Porém, bem abraçada ela é fonte de cura para nossas decepções e magoas. Num mundo envolto por agitação, muito barulho e com tantas coisas para ocupar nosso tempo, nós nos enchemos de tantas coisas e continuamos vazios. 

Os relacionamentos não são melhores e mais bem sucedidos, por não sabermos viver nossa intimidade nesta solidão do encontro consigo mesmo. Com isto a beleza do nosso ser fica ofuscada com as marcas das futilidades e estragos da vida. 

De modo que não apresentamos uns para os outros não o melhor de nós, mas o nosso ser ferido, agressivo, escondido sobre a fantasia da carência. 

A solidão fecunda ela nunca é sozinha, ela é sempre acompanhada e iluminada. E preciso ter coragem para viver esta viagem ao nosso ser profundo. 

Vamos perceber que o nosso interior, se parece com o fundo do mar. Tem muitas coisas velhas, jogadas e esquecidas, mas as belezas mais profundas estão escondidas ali também. 

São belezas que nem você mesmo conhece. É que te ensinaram a tanto a cuidar do exterior e da casca, que o seu interior, que esconde sua beleza mais autentica fica a deriva. 

É uma pena quando alguém se apaixona só pela casca de alguém, porque com todos os reparos e plásticas que se fazem, a casca envelhece e enruga de todo jeito. Procure o seu interior esquecido e deixado de lado. 

A solidão fecunda, assusta e machuca num primeiro instante, depois ela se torna uma companheira e amiga tão necessária que sentimos demais a sua falta. 

Pe. Roger Araujo

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Halloween


O halloween tem uma origem pagã. Esta celebração se atribui a um povo que habitava na Inglaterra: os celtas. 

Esta festa tinha como objetivo principal celebrar os mortos. Acreditavam que na noite do dia 31 de outubro, o deus da morte permitia aos mortos voltar a terra para criar um ambiente de terror.

A invasão dos romanos (46 a.C) às ilhas britânicas deu como resultado a mistura dos costumes da cultura celta com os usos e costumes da Europa. 

Esta influência foi diminuindo com a pregação do evangelho, e desapareceu totalmente no final do II século do cristianismo.

Esta comemoração voltou aos poucos como uma festa para as crianças usarem fantasias de bruxas ou outros personagens maus. 

Para ganhar simpatia juntou-se o costume de distribuir doces. Pôr trás de algo aparentemente inofensivo existe toda uma trama para voltar a crenças pagãs.

Muitos grupos satanistas e ocultistas usam o dia 31 de outubro como a sua data mais importante. Chamam a este dia de " Festival da morte", e é reconhecido pôr todos os satanistas, ocultistas e adoradores do diabo como véspera do ano novo da bruxaria.

Anton LaVey, autor da " Bíblia satânica " e sumo sacerdote da igreja de satanás, diz que o dia mais importante para os seguidores do maligno é o halloween. LaVey diz que nesta noite os poderes satânicos ocultos e de bruxaria estão no seu nível de potência mais alto, e qualquer bruxo ou ocultista encontrará mais êxito no dia 31 de outubro, porque satanás e seus poderes estão em seu ponto mais alto nesta noite.

 Estes seguidores do príncipe da mentira asseguram que durante a noite do halloween, os anjos decaídos, assim como toda a classe de espíritos malignos percorrem o mundo inteiro.

Também é um fato registrado e documentado que na noite do dia 31 de outubro na Irlanda, Estados Unidos e outros países se realizam missas negras, cultos espíritas e outras reuniões relacionadas com o mal e o ocultismo.

Estas poucas informações servem para mostrar o lado negativo do halloween. A mensagem de amor, paz, caridade e esperança de Jesus Cristo é completamente contrária às imagens sangrentas, que retratam bruxas, mortos saindo de túmulos, vampiros e outros monstros. Halloween é na verdade uma celebração da maldade.

"Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido (coceira) de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas." (2Tm 4,3-4) 

Muitos jovens deixam-se iludir por figuras aparentemente "inocentes" dessas festas maléficas  E por estarem distantes da Palavra de Deus acabam sendo conduzidos pelo mal. 

É preciso orientá-los que a verdadeira felicidade somente encontramos no caminho de Deus. Vamos festejar a vida e não a morte, pois quem festeja a morte vive nas trevas e nós cristãos devemos viver na luz e essa luz é Jesus: "Eu sou a luz do mundo, quem vem a Mim não andarás nas trevas".

fonte: profeciaerealidade.com

sábado, 24 de agosto de 2013

O Menestrel


Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. 

E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. 

E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.

E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. 

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. 

E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... 

E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. 

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. 

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. 
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. 

E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. 

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. 

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. 

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. 

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. 

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. 

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. 

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. 

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. 

E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!"

1971 Veronica A. Shoffstall

OBS: Encontrei este texto na internet, como sendo de Shakespeare, porém o texto não tinha título. Pesquisando, descobri, não só o título, como o verdadeiro autor.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Certezas


Não quero alguém que morra de amor por mim...

Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...

Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...

Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...

Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento...e não brinque com ele.

E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe...

Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um NÃO que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como SIM.

Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...

Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena.


Mário Quintana

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Crônica do Amor



Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. 

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor

sábado, 18 de maio de 2013

Hoje é Tempo de Ser Feliz


A vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez seja por isso, que a idéia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver. 

Viver é plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa existencia as mais diversas formas de sementes. 

Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós,será plantação que poderá ser vista de longe... 

Para cada dia, o seu empenho. A sabedoria bíblica nos confirma isso, quando nos diz que "debaixo do céu há um tempo para cada coisa!" 

Hoje, neste tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça, os amores que você ama, tudo será determinante para a colheita futura. 

Felicidade talvez seja isso: alegria de recolher da terra que somos, frutos que sejam agradáveis aos olhos! 

Infelicidade, talvez seja o contrário. 

O que não podemos perder de vista é que a vida não é real fora do cultivo. Sempre é tempo de lançar sementes... Sempre é tempo de recolher frutos. Tudo ao mesmo tempo. Sementes de ontem, frutos de hoje, Sementes de hoje, frutos de amanhã! 

Por isso, não perca de vista o que você anda escolhendo para deixar cair na sua terra. Cuidado com os semeadores que não lhe amam. Eles têm o poder de estragar o resultado de muitas coisas. 

Cuidado com os semeadores que você não conhece. Há muita maldade escondida em sorrisos sedutores... 

Cuidado com aqueles que deixam cair qualquer coisa sobre você, afinal, você merece muito mais que qualquer coisa. 

Cuidado com os amores passageiros... eles costumam deixar marcas dolorosas que não passam... 

Cuidado com os invasores do seu corpo... eles não costumam voltar para ajudar a consertar a desordem... 

Cuidado com os olhares de quem não sabe lhe amar... eles costumam lhe fazer esquecer que você vale à pena... 

Cuidado com as palavras mentirosas que esparramam por aí... elas costumam estragar o nosso referencial da verdade... 

Cuidado com as vozes que insistem em lhe recordar os seus defeitos... elas costumam prejudicar a sua visão sobre si mesmo. 

Não tenha medo de se olhar no espelho. É nessa cara safada que você tem, que Deus resolveu expressar mais uma vez, o amor que Ele tem pelo mundo. 

Não desanime de você, ainda que a colheita de hoje não seja muito feliz. 

Não coloque um ponto final nas suas esperanças. Ainda há muito o que fazer, ainda há muito o que plantar, e o que amar nessa vida. 

Ao invés de ficar parado no que você fez de errado, olhe para frente, e veja o que ainda pode ser feito... 

A vida ainda não terminou. E já dizia o poeta "que os sonhos não envelhecem..." 

Vai em frente. Sorriso no rosto e firmeza nas decisões. 

Deus resolveu reformar o mundo, e escolheu o seu coração para iniciar a reforma. 

Isso prova que Ele ainda acredita em você. E se Ele ainda acredita, quem sou eu pra duvidar... (?)

Padre Fábio de Melo

Jardim da Infância


No jardim de infância, fiz amizades que só são lembradas ao olhar fotos. 
Até hoje levo algumas dentro dessa máquina pulsante que chamam de coração. 

Não espero perder ou achar pessoas que estejam dispostas a me suportar, nem que seja por alguns segundos. 

Em uma das minhas leituras vi que nunca podemos correr atrás das borboletas, mas sim preparar o jardim para que elas venham até nós. 

Isso me fez pensar no quão as borboletas são contraídas, tímidas, medrosas e cheias de contrariedades. 

Elas não ficam muito tempo perto de uma flor, nunca permanecem em um mesmo jardim. Então, se as minhas borboletas decidem voar, eu deixo. 

Se voltarem e escolherem o meu jardim, darei conforto e deixarei que decidam o tempo que quiserem ficar, mas prepararei meu coração para vê-las partindo novamente. 

Por em quanto, fico aqui regando as minhas flores, para que elas estejam lindas sempre. 

Adoro pintá-las em uma tela com cheiro de arte, observando-as serem beijadas por novas borboletas, e sorrindo para as que vêm me visitar.

Alice Andrade

O contrário do Amor


O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. 

Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. 

Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? 

Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? 

O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. 

Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. 
Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. 

Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. 

O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. 

Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. 

Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. 

Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. 

Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. 

Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

Martha Medeiros

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estar só não significa solidão


Apesar de a grande maioria dizer que é possível ser feliz sem um par amoroso, muita gente acredita que só se encontra a realização afetiva através da relação amorosa fixa e estável com uma única pessoa. 

A propaganda a favor é tão poderosa que a busca da “outra metade” se torna incessante e muitas vezes desesperada.

E quando surge um parceiro disposto a alimentar esse sonho, pronto: além de se inventar uma pessoa, atribuindo a ela características que geralmente não possui, se abdica facilmente de coisas importantes, imaginando que, agora, nada mais vai faltar.

E o mais grave: com o tempo passa a ser fundamental continuar tendo alguém ao lado, pagando-se qualquer preço, mesmo quando predominam as frustrações. 

Não ter um par significaria não estar inteiro, ser incompleto, ou seja, totalmente desamparado. Mas de onde vem essa ideia?

Na fusão com a mãe no útero, experimentamos a sensação de plenitude, bruscamente interrompida com o nascimento. 

A partir daí, o anseio amoroso parece ser o de recuperar a harmonia perdida. A criança, então, dirige intensamente para a mãe sua busca de aconchego.

No Ocidente aprendemos que, na vida adulta, somente através do convívio amoroso com outra pessoa nos sentiremos completos. 

Quem, além do ser amado, pode suprir nossas carências e nos tornar inteiros? 

Aí é que entra o amor romântico, que promete o encontro de almas e a fusão dos amantes, acenando com a possibilidade de transformar dois num só, da mesma forma que na fusão original com a mãe.

O único problema é que tudo não passa de uma ilusão. Na realidade, ninguém completa ninguém. 

Mas, ignorando isso, reeditamos inconscientemente com o parceiro nossas necessidades infantis.

O outro se torna tão indispensável para nossa sobrevivência emocional, que a possessividade e o cerceamento da liberdade sobrecarregam a relação. 

Por mais encantamento e exaltação que o amor romântico cause num primeiro momento, ele se torna opressivo por se opor à nossa individualidade.

Não é fácil deixar o hábito de formar um par. Fomos condicionados a desejá-lo, convencidos de que se trata de pré-requisito para a felicidade. 

Para complicar mais as coisas, há ainda os que, por equívoco ou pela própria limitação, se utilizam de argumentos psicológicos para não deixar ninguém escapar dos modelos.

Para esses, maturidade emocional implica manter uma relação amorosa estável com alguém do sexo oposto. 

Não faltam terapeutas para reforçar esse absurdo na cabeça de seus clientes. 
E o pior é que eles acreditam piamente e sofrem bastante, se sentindo defeituosos ou no mínimo incompetentes por não terem alguém.

Contudo, a condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal. 

Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e “salvadora” de alguém.

O caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos laços afetivos. 

É com o desenvolvimento individual que se processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades e do prazer de estar só. 

E assim fica para trás a ideia básica de fusão do amor romântico, que pretende transformar os dois numa só pessoa.

E quando se perde o medo de ser sozinho, se percebe que isso não significa necessariamente solidão.

Regina Navarro Lins,  psicanalista e escritora

domingo, 28 de abril de 2013

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender


1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria “reuniões”.

8. Há uma linha muito tênue entre “hobby” e “doença mental”.

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão… que o AMOR existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena!"

Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Para ser mais feliz


01 - Seja ético.
A vitória que vale a pena é a que aumenta sua dignidade e reafirma valores profundos. Pisar nos outros para subir desperta o desejo de vingança.

02 - Estude sempre e muito.
A glória pertence aqueles que têm um trabalho especial para oferecer.

03 - Acredite sempre no amor.
Não fomos feitos para a solidão. Se você está sofrendo por amor, está com a pessoa errada ou amando de uma forma ruim para você. Caso tenha se separado, curta a dor, mas se abra para outro amor.

04 - Seja grato(a) a quem participa de suas conquistas.
O verdadeiro campeão sabe que as vitórias são alimentadas pelo trabalho em equipe. Agradecer é a melhor maneira de deixar os outros motivados.

05 - Eleve suas expectativas.
Pessoas com sonhos grandes obtêm energia para crescer. Os perdedores dizem:
"isso não é para nós". Os vencedores pensam em como realizar seu objetivo.

06 - Curta muito a sua companhia.
Casamento dá certo para quem não é dependente. Aprenda a viver feliz mesmo sem homem/mulher ao lado. Se não tiver com quem ir ao cinema, vá com a pessoa mais fascinante: VOCÊ!

07 - Tenha metas claras.
A história da humanidade é cheia de vidas desperdiçadas: amores que não geram relações enriquecedoras, talentos que não levam carreiras ao sucesso, etc. Ter objetivos evita desperdícios de tempo, energia e dinheiro.

08 - Cuide bem do seu corpo.
Alimentação, sono e exercício são fundamentais para uma vida saudável. Seu corpo é seu templo. Gostar da gente deixa as portas abertas para os outros gostarem também.

09 - Declare o seu amor.
Cada vez mais devemos exercer o nosso direito de buscar o que queremos (sobretudo no amor). Mas atenção: elegância e bom senso são fundamentais.

10 - Amplie os seus relacionamentos profissionais.
Os amigos são a melhor referência em crises e a melhor fonte de oportunidades na expansão. Ter bons contatos é essencial em momentos decisivos.

11 - Seja simples.
Retire da sua vida tudo o que lhe dá trabalho e preocupação desnecessários.

12 - Não imite o modelo masculino do sucesso.
Os homens fizeram sucesso à custa de solidão e da restrição aos
sentimentos. O preço tem sido alto: infartos e suicídios. Sem dúvida, temos mais a aprender com as mulheres do que elas conosco. Preserve a sensibilidade feminina - é mais natural e mais criativa.

13 - Tenha um orientador.
Viver sem é decidir na neblina, sabendo que o resultado só será conhecido, quando pouco resta a fazer. Procure alguém de confiança, de preferência mais experiente e mais bem sucedido, para lhe orientar nas decisões, caso precise.

14 - Jogue fora o vício da preocupação.
Viver tenso e estressado está virando moda. Parece que ser competente e estar de bem com a vida são coisas incompatíveis. Bobagem? Defina suas metas, conquiste-as e deixe as neuras para quem gosta delas.

15 - O amor é um jogo cooperativo.
Se vocês estão juntos é para jogar no mesmo time.

16 - Tenha amigos vencedores.
Aproxime-se de pessoas com alegria de viver.

17 - Diga adeus a quem não o(a) merece.
Alimentar relacionamentos, que só trazem sofrimento é masoquismo, é atrapalhar sua vida. Não gaste vela com mau defunto. Se você estiver com um marido/mulher que não esteja compartilhando, empreste, venda, alugue, doe. E deixe o espaço livre para um novo amor.

18 - Resolva!
A mulher/homem do milênio vai limpar de sua vida as situações e os problemas desnecessários.

19 - Aceite o ritmo do amor.
Assim como ninguém vai empolgadíssimo todos os dias para o trabalho, ninguém está sempre no auge da paixão. Cobrar de si e do outro viver nas nuvens é o começo de muita frustração.

20 - Celebre as vitórias.
Compartilhe o sucesso, mesmo as pequenas conquistas, com pessoas queridas.
Grite, chore, encha-se de energia para os desafios seguintes.

21 - Perdoe!
Se você quer continuar com uma pessoa, enterre o passado para viver feliz.
Todo mundo erra, a gente também.

22 - Arrisque!
O amor não é para covardes. Quem fica a noite em casa sozinho, só terá que decidir que pizza pedir. E o único risco será o de engordar.

23 - Tenha uma vida espiritual.
Conversar com Deus é o máximo, especialmente para agradecer. Reze antes de dormir. Faz bem ao sono e a alma. Oração e meditação são fontes de inspiração.

Roberto Shinyashiki

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A velhice pede desculpas


Tão velho estou como árvore no inverno, 
vulcão sufocado, pássaro sonolento. 
Tão velho estou, de pálpebras baixas, 
acostumado apenas ao som das músicas, 
à forma das letras. 

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético 
dos provisórios dias do mundo: 
Mas há um sol eterno, eterno e brando 
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. 

Desculpai-me esta face, que se fez resignada: 
já não é a minha, mas a do tempo, 
com seus muitos episódios. 

Desculpai-me não ser bem eu: 
mas um fantasma de tudo. 
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, 
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. 

Desculpai-me viver ainda: 
que os destroços, mesmo os da maior glória, 
são na verdade só destroços, destroços. 

Cecília Meireles

terça-feira, 16 de abril de 2013

Também já fui brasileiro


Eu também já fui brasileiro moreno como vocês.

Ponteei viola, guiei forde e aprendi na mesa dos bares que o nacionalismo é uma virtude.

Mas há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.

Bastava olhar para mulher, pensava logo nas estrelas e outros substantivos celestes.

Mas eram tantas, o céu tamanho, minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo. Fazia isso, dizia aquilo.

E meus amigos me queriam, meus inimigos me odiavam.

Eu irônico deslizava satisfeito de ter meu ritmo.

Mas acabei confundindo tudo. Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não, não tenho ritmo mais não.

Carlos Drummond de Andrade

O dom do assassino


Durante tanto tempo lançou faíscas pelas estradas por onde andou, queimando a própria face em lágrimas ardentes, enquanto meus olhos, agora cegos por ti, não enxergam mais as trilhas, ou as sombras das árvores que me chamam a descansar.

 E ao olhar para trás, vejo o meu rastro, agora um incêndio, queimando sozinho.

Tanto tempo se passou e hoje vejo as marcas do meu incêndio, como negras
cicatrizes a acompanharem-me por toda a vida, como prova e lembrança de que não posso recuar, de que nunca mais poderei voltar e no teu Amor, não mais poderei deitar minha cabeça, ou olhar-te nos olhos e encontrar Você, tão puramente simples em existência, que é capaz de me consolar por simplesmente ainda estar vivo.

Queria ser tão puramente o Vento, a viajar distancias incalculáveis para que assim, um dia eu viesse a chegar onde tanto sonhei estar. 

Seria veneno, tentar enganar-me e nisso, sobre meu peito, pousar uma máscara, para ocultar meu coração e dessa maneira, revelar a quem sempre pertenceu.

Vou me lançar em queda e enquanto aguardo meu corpo se chocar contra as rochas ásperas que anseiam abraçar meu corpo, minhas lágrimas chamam por ti, na esperança de mais uma vez, voltar a deslumbrar-me com tua face, outrora, que me salvou de mim mesmo, quando ao abismo cheguei e lá, estavas tu a me esperar.

João Carlos Alves de Moraes - canto do Escritor - Literatura

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ondas de solidão


Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. 

Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? 

As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. 

São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. 

Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão. 

Eça de Queirós- Portugal, 1845 - 1900 

A ira nunca é súbita


A ira nunca é súbita. Nasce de um longo roer precedente, que ulcerou o espírito e nele acumulou a força reactiva necessária para a explosão. 

Daqui resulta que um belo acesso de cólera não é, de forma alguma, sinal de uma índole franca e directa. 

É, pelo contrário, revelação involuntária de uma tendência para nutrir dentro de si o rancor - isto é, de um temperamento fechado, invejoso, e de um complexo de inferioridade. 

O conselho de «estar em guarda contra quem nunca se irrita», significa, portanto, que - todos os homens, acumulando inevitavelmente ódio - convém ter especial cuidado com os que nunca se traem por acessos de ira. 

Quanto a ti, não fazes mal em ser insicero no teu remoer interior, mas em te traíres na explosão. 

Cesare Pavese- Itália, 1908 -1950 Escritor

A hipocrisia do ser


Para que servem esses píncaros elevados da filosofia, em cima dos quais nenhum ser humano se pode colocar, e essas regras que excedem a nossa prática e as nossas forças? 

Vejo frequentes vezes proporem-nos modelos de vida que nem quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que é pior, desejo de o fazer.

Da mesma folha de papel onde acabou de escrever uma sentença de condenação de um adultério, o juiz rasga um pedaço para enviar um bilhetinho amoroso à mulher de um colega. 

Aquela com quem acabais de ilicitamente dar uma cambalhota, pouco depois e na vossa própria presença, bradará contra uma similar transgressão de uma sua amiga com mais severidade que o faria Pórcia.

E há quem condene homens à morte por crimes que nem sequer considera transgressões. 

Quando jovem, vi um gentil-homem apresentar ao povo, com uma mão, versos de notável beleza e licenciosidade, e com outra, a mais belicosa reforma teológica de que o mundo, de há muito àquela parte, teve notícia.

Assim vão os homens. Deixa-se que as leis e os preceitos sigam o seu caminho: nós tomamos outro, não só por desregramento de costumes, mas também frequentemente por termos opiniões e juízos que lhes são contrários. 

Michel Eyquem de Montaigne -França 1533,1592 

A roda da fortuna


Não se move a roda, sem que a parte que virou para o céu seja maior repuxo para tocar na terra, e a parte que se viu no ar erguida se veja logo da mesma terra pisada, sem outro impulso para descer, mais que com o mesmo movimento com que subiu; por isso a fortuna fez trono da sua mesma roda, porque, como na figura esférica se não conhece nela primeiro nem último lugar, nas felicidades andam sempre em confusão as venturas. 

Na dita com que se sobe, vai sempre entalhado o risco com que se desce. Não há estrela no céu que mais prognostique a ruína de um grande, que o levantar de sua estrela. Mais depressa se move aos afagos da grandeza que nos lisonjeia, do que aos desfavores com que a fortuna nos abate.

Quanto trabalharam os homens para subir, tantas foram as diligências que fizeram para se arruinarem; porque, como a fortuna (falo com os que não são beneméritos) não costuma subir a ninguém por seus degraus, em faltando degraus para a descida, tudo hão-de ser precipícios; e diferem muito entre si o descer e o cair. 

Se perguntarmos o por que caiu Roma, o maior império do Mundo, dir-nos-á seu historiador que foi porque cresceu muito; e com efeito acabou de grande, e as mesmas mãos que a edificaram, essas mesmas a desfizeram. 

Sem mãos se arruinou aquela estátua de Nabuco, porque a mesma grandeza não necessita de mãos, mas só de si para se arruinar. 

Em um monte de glória onde assistiu Cristo, se formaram estas glórias dos raios do Sol e da brancura da neve, para que, desfazendo-se a neve com o sol, se desfizessem umas glórias com outras; porque não depende a grandeza, para a ruína, mais que de si mesma, e quando falte quem as acabe, elas mesmas se consomem. 

Padre António Vieira

domingo, 14 de abril de 2013

O Cinismo dos valores


Cada vez mais desesperado. Olho, olho, e só vejo negrura à minha volta. Fé? 

Evidentemente... Enquanto há vida, há esperança — lá diz o outro. Mas, francamente: fé em quê? 

Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciência? 

Peçam-me tudo, menos que tape os olhos. Bem basta quando a terra nos cobrir! 

Ah! mas a humanidade acaba por encontrar o seu verdadeiro caminho — dizem-me duas células ingênuas do entendimento. 

E eu respondo-lhes assim : Não, o homem não tem caminhos ideais e caminhos de ocasião. O homem tem os caminhos que anda. 

Ora este senhor, aqui há tempos, passou três séculos a correr atrás dum mito que se resumia em queimar, expulsar e perseguir uns outros homens, cujo pecado era este:

saber filosofia, medicina, física, astronomia, religião, comércio — coisas que já nessa época eram dignas e respeitáveis. 

Miguel Torga

Ninguém me ama a ponto de ser eu


Fiz o que era mais urgente: uma prece. Rezo para achar o meu verdadeiro caminho. 

Mas descobri que não me entrego totalmente à prece, parece-me que sei que o verdadeiro caminho é com dor. 

Há uma lei secreta e para mim incompreensível: só através do sofrimento se encontra a felicidade. 

Tenho medo de mim pois sou sempre apta a poder sofrer. Se eu não me amar estarei perdida — porque ninguém me ama a ponto de ser eu, de me ser. 

Tenho que me querer para dar alguma coisa a mim. Tenho que valer alguma coisa?

Oh protegei-me de mim mesma, que me persigo. Valho qualquer coisa em relação aos outros — mas em relação a mim, sou nada. 

É tão bom ter a quem pedir. Nem me incomodo muito se eu não for totalmente atendida. 

Eu peço a Deus para eu ser mais bonita — e não é que meu olho faísca ao mesmo tempo que meus lábios parecem mais doces e cheios? 

Eu peço a Deus tudo o que eu quero e preciso. É o que me cabe. 

Ser ou não ser atendida — isso não me cabe a mim, isto já é matéria-mágica que se me dá ou se retrai. Obstinada, eu rezo. 

Eu não tenho o poder. Tenho a prece. 

Clarice Lispector

A ama-seca


O Romualdo, marido de D. Eufêmia, era um rapaz sério, lá isso era, e tão incapaz de cometer a mais leve infidelidade conjugal como de roubar o sino de São Francisco de Paula; mas - vejam como o diabo as arma! 

Um dia D. Eufêmia foi chamada, a toda a pressa, a Juiz de Fora, para ver o pai que estava gravemente enfermo, e como o Romualdo não podia naquela ocasião deixar a casa comercial de que era guarda-livros (estavam a dar balanço), resignou-se a ver partir a senhora acompanhada pelos três meninos, o Zeca, o Cazuza, o Bibi, e a ama-seca deste último, que era ainda de colo.

Foi a primeira vez que o Romualdo se separou da família. Custou-lhe muito, coitado, e mais lhe custou quando, ao cabo de uma semana, D. Eufêmia lhe escreveu, dizendo que o velho estava livre de perigo, mas a convalescença seria longa, e o seu dever de filha era ficar junto dele um mês pelo menos.

O Romualdo resignou-se. Que remédio!...

Durante os primeiros tempos saía do escritório e metia-se em casa, mas no fim de alguns dias entendeu que devia dar alguns passeios pelos arrabaldes, hoje este, amanhã aquele. Era um meio, como outro qualquer, de iludir a saudade.

Uma noite coube a vez ao Andaraí Grande. O Romualdo tomou o bonde do Leopoldo, e teve a fortuna ou a desgraça de se sentar ao lado da mulatinha mais dengosa e bonita que ainda tentou um marido, cuja mulher estivesse em Juiz de Fora.

Nessa noite fatal a virtude do Romualdo deu em pantanas: tencionando ele ir até o fim da linha, como fazia todas as noites, apeou-se na Rua Mariz e Barros, ali pelas alturas da Travessa de São Salvador. A mulata havia se apeado algumas braças antes.

E ele viu, à luz de um lampião, o vulto dela saltitante e esquivo, e apressou o passo para apanhá-la, o que conseguiu facilmente, porque, pelos modos, ela já contava com isso.

- Boa noite!

- Boa noite.

- Como se chama?

- Antonieta.

- Pode dar-me uma palavra?

- Por que não falou no bonde?

- Era impossível... estava tanta gente... e estes elétricos são tão iluminados.

- Mas o sinhô bolinou que não foi graça! vamos, diga: que deseja?

- Desejo saber onde mora.

- Não tenho casa minha; estou empregada numa família ali mais adiante, por sinal que não estou satisfeita, e ando procurando outra arrumação.

- Onde poderemos falar em particular?

- Não sei.

- Você sai amanhã à noite?

- Amanhã não, porque saí hoje, e não quero abusá.

- Então, depois de amanhã?

- Pois sim.

- Onde a espero?

- Onde o sinhô quisé.

- Na Praça Tiradentes, no ponto dos bondes. As oito horas.

- Na porta do armazém do Derby?

- Isso!

- Tá dito! Inté depois d'amanhã às oito hora.

- Não falte!

- Não farto não!

No dia seguinte, o Romualdo contou a sua aventura a um companheiro de escritório que era useiro e vezeiro nessas cavalarias... baixas, e o camarada levou a condescendência ao ponto de confiar-lhe a chave de um ninho que tinha preparado adrede para os contrabandos do amor.

Antonieta foi pontual; à hora marcada lá estava à porta do Derby, com ares de quem esperava o bonde.

O Romualdo aproximou-se, fez um sinal, afastou-se e ela seguiu-o...

Dez dias depois, estava ele arrependidíssimo da sua conquista fácil, e com remorsos de haver enganado D. Eufêmia, aquela santa! 

Procurava agora meios e modos de se ver livre da mulata, cuja prosódia era capaz de lançar água na fervura da mais violenta paixão.

Vendo que não podia evitá-la, tomou o Romualdo a deliberação de fugir-lhe, e uma noite deixou-a à porta do ninho, esperando debalde por ele. Lembrou-se, mas era tarde, que havia prometido dar-lhe um anel, justamente nessa noite.

- Diabo! pensou ele, Antonieta vai supor que lhe fugi por causa do anel!

Voltou, afinal, D. Eufêmia de Juiz de Fora. Veio no trem da manhã, inesperadamente, e já não encontrou o marido em casa.

Estava furiosa, porque a ama-seca de Bibi deixara-se ficar na estação da Barra. Podia ser que não fosse de propósito. O mais certo, porém, era o ter sido desencaminhada por um sujeito que vinha no trem a namorá-la desde Paraíbuna.

Quando D. Eufêmia contou isso ao marido, acrescentou indignada:

- Que homens sem-vergonha!... Não podem ver uma mulata!...

O Romualdo perturbou-se, mas disfarçou, perguntando:

- E agora? E preciso anunciar! Não podemos ficar sem ama-seca!

- Já mandei o Zeca pôr um anúncio no Jornal do Brasil.

No dia seguinte, o Romualdo saiu muito cedo; ao voltar para casa, a primeira coisa que perguntou à senhora foi:

- Então? Já temos ama-seca?. .

- Já; é uma mulatinha bem jeitosa, mas tem cara de sapeca. Chama-se Antonieta.

- Hem? Antonieta?

- Que tens, homem?

- Nada; não tenho nada... E jeitosa?... Tem cara de sapeca?... Manda-a embora! Não serve! Nem quero vê-la!...

- Ora essa! Por quê? Olha, ela aí vem.

Antonieta chegou, efetivamente, com o Bibi ao colo; mas o Romualdo tinha fechado os olhos, dizendo consigo:

- Que escândalo!... rebenta a bomba!... este diabo vai reclamar o anel!.

Mas como nada ouvisse, o mísero abriu os olhos e - oh! milagre! - era outra Antonieta!.

Ele pensou, os leitores também pensaram que fosse a mesma; não era.

Decididamente, há um Deus para os maridos que enganam as suas mulheres.

Artur de Azevedo